14 de Dezembro (17 às 20 horas/YouTube)
Róbson Ramos dos Reis (UFSM/CNPq)
FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA E AS NOÇÕES DE CONFIANÇA E MEMÓRIA CORPORAL NA DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA DA ENFERMIDADE
RESUMO: No presente artigo, é desenvolvida uma abordagem fenomenológico-hermenêutica da enfermidade. Partindo da descrição da dúvida corporal apresentada por Havi Carel, são identificados dois fenômenos de base que condicionam o sentimento corporal nuclear na experiência da enfermidade: confiança corporal e memória corporal procedimental. Para cada um desses fenômenos, é apresentada uma abordagem fenomenológico-hermenêutica, que consiste em explicitar os compromissos ontológicos implicados nos conceitos que descrevem a sequência de desenvolvimento da confiança infantil e a estrutura das aptidões capazes de formar capacidades habituadas. Tais compromissos são explicitados com base no pluralismo ontológico hermenêutico exemplificado na ontologia fundamental projetada por Heidegger. Como resultado mais geral, a presente abordagem da dúvida corporal estabelece a sugestão de que a abordagem fenomenológico-hermenêutica da enfermidade precisa ser executada em colaboração recíproca com a investigação empírica sobre a experiência significativa, explicando compromissos ontológicos a partir do pluralismo ontológico hermenêutico.
PALAVRAS-CHAVE: Fenomenologia-hermenêutica. Enfermidade. Dúvida corporal. Confiança. Memória procedimental. Pluralismo ontológico
André Leclerc (UnB/CNPq)
COMO SER INTENCIONALISTA E DISPOSICIONALISTA
RESUMO: Intencionalistas acreditam que a intencionalidade, a propriedade relacional de ser acerca de algo, é constitutiva do mental. De acordo com a Tese de Brentano: 1) o mental é intencional; 2) nada físico é intencional. O disposicionalismo, acredito, deve ser ampliado para incluir todas as propriedades mentais que também são propriedades disposicionais realizadas fisicamente no cérebro e no sistema nervoso como um todo, da mesma maneira que a solubilidade do açúcar é realizada na sua estrutura molecular. Meu objetivo é mostrar como podemos ser intencionalistas (aceitar a primeira parte da Tese de Brentano) e disposicionalistas ao mesmo tempo (aceitar que os estados, atos e eventos mentais intencionais tenham uma base física de realização). Resumindo em um slogan: o intencional é a manifestação de disposições mentais. As disposições em geral, e as disposições psicológicas em particular, têm dois lados (two-sidedness): elas pressupõem uma realização física, de um lado, e de outro, uma manifestação que é propriamente mental. Uma exposição sobre a linguagem se faz necessária neste contexto, pois as representações públicas também instanciam propriedades semânticas que são intencionais, e muitos de nossos estados mentais têm conteúdo especificado pelo uso de uma frase de uma língua pública.
PALAVRAS-CHAVE: Intencionalismo. Disposicionalismo. Mental. Físico. Manifestações.
15 de Dezembro (17 às 20 horas/YouTube)
Marcelo D. Boeri (PUC-Chile)
ALMA, MENTE Y VIDA EN ARISTÓTELES
RESUMEN: Aristóteles es probablemente el primer filósofo que trató sistemáticamente el fenómeno de la vida. Su explicación de dicho fenómeno se conecta directamente con varios problemas epistemológicos (que tienen que ver con la percepción, la imaginación y el pensamiento) que resultan claves en el proyecto aristotélico. En esta presentación discutiré algunos aspectos de la psicología aristotélica y procuraré mostrar algunos puntos de acuerdo y desacuerdo entre la teoría aristotélica del alma y algunos debates contemporáneos de la mente. Mostraré brevemente cómo algunos estudiosos de Aristóteles han leído su psicología partiendo de algunos supuestos de la filosofía de la mente contemporánea. Después de tratar muy resumidamente algunos aspectos importantes del modelo psicológico de Aristóteles, indicaré por qué algunas de sus ideas y puntos de vista todavía pueden tomarse en serio, y por qué (siguiendo los rótulos habitualmente empleados en la filosofía de la mente contemporánea) dicha psicología puede ser leída desde perspectivas diferentes.
PALABRAS CLAVE: Aristóteles. Alma. Mente. Vida.
José Trindade Santos (UFC)
A CAPTAÇÃO DO OBJETO COGNITIVO PELA EPISTEMOLOGIA DE ARISTÓTELES
RESUMO: O texto tenta construir um argumento sobre a captação de objetos cognitivos pela alma, em Aristóteles. Da repetição de percepções indiferenciadas, a imaginação obtém imagens que condensa numa única experiência, da qual forma o universal. Esse resultado só pode ser atingido porque os dados colhidos das faculdades perceptivas são traduzidos pelos elementos significativos da linguagem, permitindo a formulação de juízos verdadeiros e falsos, pelos quais a realidade pode ser descrita.
PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles. Percepção. Sensíveis. Imaginação. Experiência. Universais.
16 de Dezembro (17 às 21 horas/YouTube)
Marcelo Carvalho (UNIFESP/CNPq)
CONCEITOS PSICOLÓGICOS EM NEUROCIÊNCIA COGNITIVA: ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA NEUROCIÊNCIA DE BENNETT & HACKER
RESUMO: O uso de conceitos psicológicos na neurociência cognitiva é fortemente criticado
por Bennett & Hacker em Philosophical Foundations of Neuroscience. Sua objeção central
dirige-se à atribuição ao cérebro pela neurociência de conceitos psicológicos que são
significativos apenas quando aplicados a todo o ser. Esse é supostamente o caso de “ver”,
“comunicar” e “ler”. Bennett & Hacker identificam em tais atribuições o que eles chamam de
falácia mereológica. A revisão crítica do argumento de Bennett & Hacker é uma oportunidade
para apresentar o debate sobre filosofia e neurociência psicológica e delinear uma perspectiva
wittgensteiniana sobre o significado dos conceitos psicológicos, seu interesse e sua relevância
para a pesquisa científica.
PALAVRAS-CHAVE: Neurociência Cognitiva. Filosofia da Mente. Wittgenstein
Mesa-Redonda: II Workshop 4-E Cognition
Eros Carvalho (UFRGS/CNPq)
A ABORDAGEM ECOLÓGICA DAS HABILIDADES E A EPISTEMOLOGIA DOS EIXOS
RESUMO: Neste comunicação, apoio-me na interpretação da Moyal-Sharrock de que as proposições “hinge” são maneiras de agir para oferecer uma proposta própria sobre como compreender essas proposições. Argumento que a posição da Moyal-Sharrock deixa algumas lacunas, ela não explica a origem das nossas certezas fundamentais. A leitura dela também carece de recursos para responder ao problema da demarcação, não é claro como distinguir maneiras de agir que podem legitimamente cumprir o papel de fundamento não-fundamento das que não podem. Sem uma resposta para este problema, a ameaça relativista é séria. Proponho então que as proposições “hinge” são maneiras de agir constitutivas de habilidades. Articulo também uma abordagem ecológica das habilidades, a qual me possibilita explicar por que habilidades são embebidas-de-realidade e, por conseguinte, por que as maneiras de agir que as constituem são fundamentos não-fundamentados legítimos. Com base nessa abordagem, ofereço uma resposta para o problema da demarcação que afasta a ameaça relativista.
Giovanni Rolla (UFBA)
ANTIRREPRESENTACIONALISMO E HEGEMONISMO EXPLANATÓRIO NAS CIÊNCIAS COGNITIVAS
RESUMO: Nos últimos 30 anos, as ciências cognitivas passaram por um movimento conhecido como virada pragmática, que de um modo geral, representa a superação do paradigma anterior, o cognitivismo de velha guarda. Proponentes desse novo movimento enfatizam a ação, a corporeidade e a situação—que até então eram amplamente ignoradas—como centrais para explicações sobre a cognição. Dentro do novo paradigma que então surgia, algumas vertentes teóricas avançaram também uma proposta mais radical e contestaram a viabilidade do conceito de representação mental, um resíduo persistente, tanto filosófica quanto empiricamente, do paradigma cognitivista. É nesse contexto que surgem dois tipos de argumentos antirrepresentacionalistas: um argumento epistemológico e um argumento ontológico. O primeiro dispensa a necessidade de postular representações para a explicação de toda e qualquer performance cognitiva, enquanto o segundo contesta a possibilidade de naturalizar representações mentais. Argumento que um antirrepresentacionalismo de caráter ontológico implica um hegemonismo explanatório—a suposição de que uma única abordagem deve explicar todas as dimensões da cognição. Dado isso, argumento que devemos evitar o hegemonismo explanatório nas ciências cognitivas, e ofereço razões positivas para aceitarmos um pluralismo explanatório através do exame de explicações filogenéticas e funcionais da autoconsciência, da memória episódica e do raciocínio.
Nara Figueiredo (UNICAMP)
A RELEVÂNCIA DA ANÁLISE DE PROCESSOS DE CRIAÇÃO DE SENTIDO PARTICIPATIVO EM CONTEXTOS DE IMPROVISAÇÃO
RESUMO: A teoria enativista linguística propõe uma compreensão da linguagem como séries de hábitos que se sedimentam no decorrer da vida tanto em função das nossas constituições orgânicas quanto em função das nossas práticas sociais. Ações são significativas para quaisquer organismos vivos devido à nossa precariedade biológica e ímpetos de preservação e inclusão em dinâmicas de interação, seja se seres sociais ou não. Os sentidos que ações possuem ou adquirem são relativos tanto ao contexto de identificação quanto aos históricos dos organismos e das interações entre organismos e com sistemas não vivos. Para investigar a linguagem, comumente optamos por investigar estruturas regulares específicas já sedimentadas que podem ser destacadas das experiências e ações dos agentes. No entanto, a partir de uma perspectiva enativista linguística, aspectos dialéticos da nossa existência linguística podem e devem ser investigados em seus processos de criação e sedimentação. Por essa razão, sugiro que identificação de processos dialéticos em contextos de criação e sedimentação significativa não verbais, como a improvisação situada composicional em dança, pode propiciar o desenvolvimento de elementos do modelo dialético enativista linguístico, tais como as dialéticas entre espontaneidade e sedimentação, atos parciais e atos sociais, atos regulatórios e regulados, produção e interpretação de ações significativas, coordenação e descoordenação de ações e movimentos, atos complementares e conflitantes, dentre outros. Nessa apresentação vou falar dos primeiros passos dessa compreensão de processos de criação de sentido participativo em contextos de improvisação composicional situada em dança.
Marcos Silva (UFPE/CNPq)
LINGUAGEM E ENATIVISMO: UMA RESPOSTA NORMATIVA PARA A OBJEÇÃO DE ESCOPO E O PROBLEMA DIFÍCIL DO CONTEÚDO
RESUMO: A linguagem não precisa ser vista como um problema para enativistas radicais. A objeção do escopo usualmente apresentada para criticar explicações enativistas só representa um problema, se tivermos uma visão referencialista e representacionalista da natureza da linguagem. Apresentamos uma hipótese normativa para a grande questão do problema difícil do conteúdo, a saber, a respeito de como práticas linguísticas se desenvolvem de mentes sem conteúdo. Nós portamos conteúdo representacional quando dominamos relações inferenciais e dominamos relações inferenciais quando dominamos relações normativas, especialmente quando somos introduzidos em quadros de autorizações e proibições. Inspirados no antiintelectualismo do segundo Wittgenstein e no inferencialismo de Brandom, apresentamos a hipótese que a linguagem emerge da ação inferencialmente articulada a partir de elementos normativos e não da manipulação em estados mentais internos de conteúdos fixados pela referência a coisas externas.
PALAVRAS-CHAVE: Enativismo. Linguagem. Normatividade. Brandom. Wittgenstein.
Canal do YouTube: linguagemecognicao