V Encontro Linguagem e Cognição (21 a 23 de Novembro de 2018): Palestras e Conferências

Martin Motloch 
Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Acontecimentos e Fatos: Bennett Revisado
O objetivo deste trabalho é modificar a teoria de fatos e acontecimentos de Bennett (1988) para reconciliar a sua concepção ontológica com a formalização lógica. Segundo Bennett (1988), fatos são nada mais que exemplificações de propriedades. Acontecimentos, por sua parte, constituem uma subcategoria de fatos, porém, fatos complexos e muito detalhados. Por consequência, acontecimentos são instanciações de propriedades complexas e ricas. Inspirados pela teoria de Reichenbach (1947) que propõe formalizar acontecimentos através da quantificação sobre propriedades específicas e utilizando os resultados da teoria de modificadores de predicados, pretendemos fornecer uma formalização alternativa de fatos e acontecimentos. Nesta formalização é possível fazer a distinção entre fatos e acontecimentos e de solucionar o problema de dependência. Além disso, não é preciso quantificar sobre acontecimentos, o que corresponde à concepção de Bennett que “acontecimentos não são itens básicos no universo; eles não deveriam ser incluídos em nenhuma ontologia fundamental” (Bennett, 1988, p. 12).


Carlos Brito 
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Linguagem, Ferramentas e Máquinas
Tanto o paradigma representacionalista como o paradigma pragmatista para a filosofia da linguagem se resolvem em termos de alguma noção de conhecimento: o primeiro com a ideia de 'know that" e o segundo com a noção de "know how". Nesse seminário, nós vamos investigar contextos onde o uso de linguagem acontece sem a presença de qualquer tipo de conhecimento estruturado - o que nos levaria a um paradigma para a filosofia da linguagem caracterizado pela ideia de "not knowing".


Tárik Prata 
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Existem Sensações Inconscientes?
Intuitivamente, parece haver um vínculo indissolúvel entre estados mentais dotados de conteúdo sensorial e a consciência, pois parece não fazer sentido pensar em sensações que não são sentidas (conscientemente), ponto de vista que foi defendido por importantes filósofos como Thomas Reid e Saul Kripke. Todavia, a ideia de que a consciência é intrínseca a fenômenos mentais parece inviabilizar uma explanação informativa da consciência como propriedade de estados mentais (cf. Rosenthal, 1986), o que é um motivo para se ambicionar uma teoria na qual a consciência seja uma propriedade relacional e contingente dos estados mentais que a possuem. É o que propõe David Rosenthal em sua teoria dos "pensamentos de ordem superior". Mas essa ruptura com a noção (cartesiana) da consciência como propriedade intrínseca exige a possibilidade de sensações inconscientes. O presente trabalho analisa alguns dos argumentos de Rosenthal a favor da existência de tais sensações, sejam argumentos baseados em situações cotidianas (como dores intermitentes e visão periférica), sejam argumentos baseados em estudos empíricos (como o efeito priming e a "visão cega"). A tese defendida aqui é que os argumentos de Rosenthal são convincentes.


Sofia Inês Albornoz Stein 
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) & CNPq
Comportamentos Cooperativos desde a Perspectiva das Neurociências Sociais
Devemos pensar nos seres humanos como parte da evolução para entender suas capacidades cognitivas. As funções cerebrais e como elas se instanciam em diferentes áreas do cérebro têm sua origem em como os seres humanos tiveram que agir socialmente para sobreviver (Dunbar, 1998). Nascemos com a disposição para conhecer traços salientes específicos do que percebemos e com disposições para classificar esses traços salientes. Corrigimos diferenças na aparência de cores, superfícies e formas de acordo com os "princípios" inatos de iluminância e perspectiva. Os humanos também agem com base na empatia, não apenas na empatia afetiva, mas também na empatia perceptiva e cognitiva. Esta última possibilita que dois ou mais indivíduos prestem atenção à mesma cena ou evento (Tomasello, 2014) e conheçam — até certo ponto — o que os outros estão percebendo e pensando. A forma como as capacidades mentais são explicadas pelas neurociências mostra que essas capacidades estão conectadas a como a interação humana social acontece. Pretendo justificar a possibilidade das neurociências sociais apresentando alguns exemplos de como as capacidades inatas humanas determinam não apenas a percepção e a cognição, mas também os comportamentos cooperativos.


André Leclerc 
Universidade de Brasília (UnB) & CNPq
Compreensão Linguística Espontânea
Vamos primeiro delimitar o conceito de Compreensão Linguística Espontânea (CLE). Depois, formularemos algumas críticas à concepção epistêmica que afirma que o conhecimento do significado é sempre conhecimento proposicional. Apresentaremos a distinção entre compreensão disposicional e compreensão ocorrente, mostrando que CLE é uma forma de compreensão ocorrente tendo como objeto o significado ocasional. Faremos algumas observações críticas sobre o programa de Davidson e o programa de Grice em filosofia da linguagem. Finalmente, insistiremos sobre a importância da noção de plano em filosofia da linguagem e faremos uma conjetura: CLE se apoia sobre uma forma mais primitiva de compreensão, em particular a compreensão de situações. 

Cícero Barroso
Universidade Federal do Ceará (UFC)
O Conteúdo Específico da Informação Fenomênica e seu Impacto Causal no Sujeito da Experiência
Uma distinção óbvia entre informação fenomênica e informação científica é a origem de cada uma, enquanto a primeira provém da experiência, a segunda deriva de descrições fornecidas por teorias científicas. Uma forma menos óbvia de estabelecer a distinção é identificando diferenças de conteúdo entre os dois tipos de informação. Pode-se, com efeito, sustentar que a informação fenomênica é o único tipo de informação que pode veicular conteúdos sobre como é experienciar uma sensação específica. Minha apresentação visa mostrar que esse resultado encontra-se já implícito no chamado Argumento do Conhecimento (AC) de Frank Jackson, e tenta torná-lo mais evidente com a ajuda de algumas observações sobre a natureza da informação. Ademais, intenciono apontar algumas consequências dessa visão sobre o conteúdo específico da informação fenomênica, ressaltando o impacto causal que ele tem no sujeito da experiência.


Ludovic Soutif 
Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) & CNPq
Pensamentos Singulares Coletivos
Minha comunicação pretende unir duas linhas de investigação acerca da natureza de estados mentais que correm em paralelo na literatura. Uma diz respeito à direção de ao menos alguns de nossos episódios mentais a particulares (assim como a propriedades), e se foca quase exclusivamente nos chamados pensamentos singulares de indivíduos. A outra trata de possíveis instâncias de pensamento coletivo (e outras atitudes proposicionais) por indivíduos, grupos ou coletivos sociais. Uma forma aparentemente promissora de investigação do tópico de pensamentos singulares coletivos parte das condições (necessárias e suficientes) para a singularidade e para a coletividade de pensamentos apresentadas na literatura. Estamos, ao menos prima facie, justificados a esperar que pensamentos singulares coletivos ocorram quando as condições para a singularidade e coletividade de pensamentos são satisfeitas. Essa consideração determinará o plano de minha comunicação. Primeiramente, elucidarei diferentes abordagens acerca da singularidade de pensamentos, enfatizando as diferentes condições que postulam. Em seguida, a partir de considerações acerca da semântica do pronome “nós”, irei distinguir as condições para a coletividade de pensamentos e outros estados intencionais que caracterizam três concepções seminais da intencionalidade coletiva. A terceira parte da comunicação investigará quais combinações entre as concepções de singularidade e coletividade de pensamentos são apropriadas, ao passo que razões serão oferecidas para rejeitarmos algumas combinações. Assumindo uma atitude ecumênica acerca das concepções de coletividade de pensamentos, os resultados de minha investigação deverão ser considerados como oferecendo caracterizações de diferentes formas de pensamentos singulares coletivos. 


Aldo Dinucci 
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Se É Necessário Estudar Lógica, então É Necessário Estudar Lógica: Análise do Argumento presente na Diatribe de Epicteto II, 25 
Na Diatribe 2.25, ao ser indagado sobre por qual razão se deve estudar filosofia, Epicteto argumenta que, mesmo para saber se o estudo da lógica é necessário ou não, é necessário estudar lógica. Em nossa apresentação, analisaremos se esse argumento é válido ou não considerando os cinco indemonstrados (regras de inferência) e os themata (regra de contraposição e regras de corte para análise de argumentos) da lógica estóica. Após isso, analisaremos a diatribe em questão buscando compreender em que sentido é necessário, para o estóico Epicteto, estudar lógica. 


Gisele Secco
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Conhecimento Simbólico e Prática Matemática desde o Tractatus
A unidade, a pertinência e a atualidade da filosofia da matemática de Wittgenstein podem ser atestadas desde diversas perspectivas. Em seus últimos trabalhos, nos quais aborda as relações entre o pensamento de Wittgenstein e a matemática simbólica, Sören Stelund propôs uma dessas perspectivas, situando a primeira filosofia da matemática do vienense na assim chamada tradição do conhecimento simbólico, inaugurada por Leibniz. Neste trabalho, proponho dar sequência às investigações de Stenlund, apresentando primeiramente as capitais funções do conhecimento simbólico leibniziano – operacional e ectética – no intuito de mostrar como e em que medida o que se diz da matemática no Tractatus Logico-Philosophicus pode ser considerado partícipe da referida tradição. Ao enfatizar a importância dada por Wittgenstein ao aspecto operacional ou acional da matemática, associando-o ao “pensamento fundamental” do tratado (exposto na passagem 4.0312, de que constantes lógicas não representam ou substituem ao modo dos nomes), Stenlund considera a filosofia tractariana da matemática como uma herdeira do modo leibniziano de conceber o pensamento simbólico strictu sensu. Uma consequência interpretativa desta consideração se constata no modo como Stenlund aborda o contraste da primeira filosofia da matemática de Wittgenstein com as filosofias fundacionalistas da matemática, em especial com o logicismo de Frege e Russell – proponentes, segundo o professor sueco, de uma perspectiva estática e ontológica dos simbolismos lógico e matemático. O que pretendo indicar na segunda parte do trabalho é que uma maior atenção ao destaque dado por Wittgenstein à articulação entre o aspecto ectético e o aspecto operacional do conhecimento matemático permitiria não somente aprimorar a compreensão das críticas de Wittgenstein Frege e Russell, mas também, ao assim faze-lo, considera-las como constitutivas de uma filosofia da prática matemática avant la lettre.


William Piauí 
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
História e Linguagem na Modernidade: A Controvérsia Leibniz e Locke 
Como sabemos, foi em resposta ao Ensaio sobre o entendimento humano, do inglês John Locke (1632-1704), que o alemão G. W. Leibniz (1646-1716) escreveu os Novos ensaios sobre o entendimento humano pelo autor do sistema da harmonia preestabelecida, obra que só foi publicada em 1765. Certamente, portanto, é nos Novos ensaios que veremos o principal enfrentamento das teses inatistas de Leibniz com relação às teses empiristas de Locke. Contudo, o que não tem sido explorado adequadamente é que papel a linguagem assume em tal controvérsia, sua importância fica obvia a partir do próprio conteúdo de todo o livro III e das várias observações sobre a linguagem que se espalham por todos os seus quatro livros, mas é difícil saber ao certo do que exatamente se trata; o que também não tem sido explorado adequadamente é que papel a história, especialmente associada à investigação etimológica, desempenha na mesma controvérsia; desconhecimentos em grande medida gerados por conta das obras sobre a linguagem e sobre a história de Leibniz só estarem vindo a luz bem recentemente; são justamente essas as duas perguntas que pretendemos responder em nossa palestra, ou seja, pretendemos, de modo introdutório e a partir também de outros textos além do livro III dos Novos ensaios, contextualizar o redirecionamento conduzido por Leibniz de questões de ordem lógica e epistemológica referentes ao posicionamento de Locke no Ensaio associado à linguagem para o ambiente da etimologia, filologia, cronologia, história e geografia.

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